Coastwatch

O Coastwatch é um projeto de âmbito europeu, que permite obter uma caracterização geral da faixa costeira, envolvendo inúmeros voluntários, individual ou em grupo (escolas, CNE, associações, ONGAs, famílias, amigos,….).

Pretende-se caracterizar, no Litoral, a Biodiversidade; a Zonação Costeira (zona entremarés, zona supratidal e zona interior contígua); Erosão Costeira; Resíduos; Contaminação; Pressões Antrópicas,…

Em Portugal, o Coastwatch desenvolve-se há 26 anos, e é coordenado pelo GEOTA - Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Desastre Ecológico no rio Potengi

Já anteriormente tinhamos feito referência ao desastre ambiental ocorrido no rio Potengi http://coastwatch-coastwatch.blogspot.com/2008/01/desastre-ambiental-do-rio-potengi.html%20,%20o assunto longe de estar resolvido continua a dar que falar.
"Durante toda esta semana, foi exibida no Jornal do Dia, uma série de reportagens sobre o desastre ecológico no rio Potengi, onde morreram cerca de 40 toneladas de peixe.
A empresa produtora de camarão Veríssimo & Filhos - acusada pelo IDEMA de ser a responsável pela mortandade dos peixes - ganhou na Justiça o direito de retomar as atividades normalmente. O desembargador do Tribunal de Justiça, Rafael Godeiro, suspendeu ontem liminar da juíza Aline Cordeiro - que mandava fechar gradativamente a empresa, por irregularidades no licenciamento para a criação de camarão.
O advogado da empresa, Ezequias Pegado, que defende que houve erros no processo, falou sobre a decisão. Para ele, a decisão é o reconhecimento, por parte de uma autoridade superior, de que a empresa é inocente. Ele também comemora o fato de que, agora, a empresa pode retomar suas atividades.
O advogado admite que está mais fácil livrar a empresas das acusações de ser culpada pela mortandade de 40 toneladas de peixe no rio Potengi. Ezequias Pegado também comentou sobre a posição do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente (IDEMA) no processo.
Devido aos prejuízos ainda incalculáveis os advogados da empresa vão pedir idenização por denos materiais. Afinal, a empresa ficou sem produzir durante sete meses além de ter a imagem desgastada".
in: http://www.tvpontanegra.com.br/jd_destaque.asp?ID=928


Segundo Rose dantas, Bióloga Investigadora outro desastre pode acontecer:“Vamos chegar a um colapso sem água para beber e saturação dos rios, porque ambos estão
Potengi: contaminados” Outro desastre pode acontecer.
Rose Dantas, bióloga e pesquisadora, vem desenvolvendo um trabalho de pesquisa sobre a Lagoa de Estabilização em Área Estuarina, pela Universidade Castelo Branco, do Rio de Janeiro. Desde 2005, atua sobre o estuário do Rio Potengi. Um dia antes do desastre ecológico que matou cerca de 40 toneladas de peixe, alertou aos pescadores sobre o risco que o rio passava à iminência do “acidente” – “Só não foi pior porque eu atuei na hora certa no sábado. Comprei combustível, peguei um bote e saí com pescadores alertando à população ribeirinha. Eu gritava tanto, porque o meu desespero foi grande. O IDEMA só foi aparecer na segunda-feira”, revelou. Na verdade, o desastre que aconteceu está para acontecer outra vez. Aquilo é um barril de pólvora que poderá explodir novamente. A pesquisadora em sua entrevista ao Entrebairros, não poupou críticas à atuação da CAERN e apontou os verdadeiros culpados à sua ótica, revelando com detalhes a situação de um rio que agoniza.

EntreBairros Quais foram os municípios envolvidos na sua pesquisa?
RD – Trabalhei na cidade de Macaíba sempre com o foco no rio. Fui daquela cidade até a Ponte de Igapó, próximo às comunidades de Água Doce, Barro Branco. Eu queria saber como estava a evolução do rio, algo sobre os contaminantes. Passei a trabalhar com as ostras
como indicadores de filtradores. Elas me dariam uma idéia do que estaria acontecendo, à priori, no rio. Foi quando detectei que as ostras daquela região não podem ser consumidas. O grau de poluição do rio é tamanho, que hoje você não tem condições de comer uma ostra.
Os microorganismos encontrados nas amostras de água, extraídas do rio, apontam a existência de Salmonela, Escherichia coli, e alto índice de coliformes fecais por amostra. Nas análises físico-químicas os percentuais de metais são altos. Isto ocorre em função da quantidade de esgotos que são lançados no rio. A CAERN é o principal poluidor do estado, por deter a outorga das águas e esgotos, e não conseguir cumprir a sua missão que é a de tratar a
água, servindo e beneficiando toda a população de Natal de água potável.
EntreBairros - Foram muitas as espécies vitimadas no “acidente” do Rio Potengi?
RD – Quando há um grau de contaminação elevado, muitas espécies de animais e vegetais não conseguem sobreviver. Na verdade, os únicos animais que ainda sobrevivem por lá são o siri e o aratu, pois vivem em áreas mais altas do rio. No desastre, morreram mariscos, crustáceos, moluscos e peixes das espécies: arraias, moréias, bagres, carapeba, tainha, o vermelho e algumas aves que viviam às margens do rio. Como o Potengi é, na verdade, um estuário, que recebe água proveniente do oceano, esse dinamismo que ocorre naturalmente, faz com que ele ainda esteja “vivo”. Se não fosse isso, estaria completamente “morto”, como o Rio Mossoró. Se nenhuma providência for tomada, a tendência será essa.
EntreBairros - E quanto à Carcinicultura? Pode ser mesmo considerada
a grande vilã do acidente?
RD –
Os carcinicultores não respeitaram a questão dos “taludes”. Ali houve um grande desmatamento. Sabe-se que é uma atividade altamente impactante e contaminante. Você tem uma criação de organismos exóticos e tudo o que é exótico, impacta a fauna local. Exótico porque, por exemplo, o Vanamei (tipo de camarão) é proveniente da Ásia. É cultivado nos viveiros e para a sua sobrevivência faz uso de antibióticos pesados para aumento da resistência. O animal também é melhorado geneticamente, o que representa um agravante para a fauna, que não resiste. Além dos carcinicultores, o Estado e a CAERN deveriam ter sido responsabilizados, assim como o IDEMA que libera todas as licenças e não fiscaliza nada.
EntreBairros - Como está a situação das margens do Rio Potengi, do ponto de vista de fatores poluentes?
RD –
De um lado da margem do rio, você tem excrementos humanos sendo lançados diariamente. Durante a minha pesquisa, só em 30 minutos que fiquei observando o rio, seis caminhões de empresas limpa-fossas despejaram excrementos numa variação de 20 a 30 mil litros de fezes. Na verdade, eles jogam naquelas lagoas que não fazem o tratamento adequado. Mantêm umas bombas funcionando, que na verdade não tratam nada. Os limpa-fossas jamais poderiam ser licenciados. Além disso, a fiscalização só é feita quando há uma denúncia. Na outra margem, você tem o produtor de camarão. Como é que aquela água e aquele camarão vão estar bons para consumo? Como é que aquele peixe que está naquele estuário vai estar sadio?
EntreBairros – Existe algum amparo legal para licenciar esses limpa-fossas, uma vez que é função da CAERN o tratamento de esgoto, e a população já paga por este serviço?
RD -
Temos que perguntar ao IDEMA qual foi a lei em que se ampararam para licenciar as empresas limpa-fossas, porque essa é uma questão de saneamento básico, cuja outorga é da Companhia de Água e Esgotos – CAERN, que cobra todos os meses pelos serviços de água e esgoto. Atualmente, o que está acontecendo é que o cidadão, para limpar a fossa de sua casa, tem que pagar R$ 150,00. Por que somos obrigados a pagar duas vezes?
EntreBairros – O que precisa ser feito para salvar o rio da situação em que se encontra?
RD – Todo o esgoto que é lançado hoje no braço do Guarapes, proveniente de 21 bairros de Natal, poderia ser desviado. Todos os hospitais de Natal jogam seus esgotos “in natura” para dentro do rio. A imunizadora joga todos esses dejetos para dentro daquelas lagoas, que por sua vez lançam a água de volta ao Rio Potengi. O ideal seria que tivéssemos uma Estação de Tratamento de Esgotos para a área metropolitana. O município de Natal também poderia fazer um consórcio com os outros para instalar essa Estação. Ela poderia ser criada em um desses municípios, com vários tanques que chegariam a um último, encarregado de reutilizar a água. A CAERN precisa implantar uma Estação de Tratamento competente a médio ou longo prazo. Podemos tomar como exemplo o caso do Aterro Sanitário, quando Natal fez um consórcio. Ele está a muitos quilômetros de Natal. Só falta a boa vontade do poder público.
EntreBairros - A senhora acha que a Conferência Regional do Pólo 8 discutiu a situação do Rio Potengi de forma abrangente?
RD – Na verdade, o foco “Rio Potengi” não foi abordado como deveria. O rio tem uma importância muito grande para nós, porque além de ser considerado como APP (Área de Preservação Permanente), ele corta a cidade e como em outras do mundo, as populações ribeirinhas dependem muito dele. Tudo o que a população produz, vai demandando muito do rio. Vamos chegar a um colapso sem água para beber e saturação dos rios, porque ambos estão contaminados.
Entrevista Rose Dantas.