Coastwatch

O Coastwatch é um projeto de âmbito europeu, que permite obter uma caracterização geral da faixa costeira, envolvendo inúmeros voluntários, individual ou em grupo (escolas, CNE, associações, ONGAs, famílias, amigos,….).

Pretende-se caracterizar, no Litoral, a Biodiversidade; a Zonação Costeira (zona entremarés, zona supratidal e zona interior contígua); Erosão Costeira; Resíduos; Contaminação; Pressões Antrópicas,…

Em Portugal, o Coastwatch desenvolve-se há 26 anos, e é coordenado pelo GEOTA - Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Biodiversidade ameaçada

O impacto da acção humana sobre o ambiente natural é cada vez mais significativo e crescente. Este facto é uma consequência da crescente pressão demográfica e do padrão de consumo (excessivo) adoptado pelas sociedades, pois à medida que estes factores aumentam, diminui a biodiversidade e a capacidade do planeta em fornecer aos seres vivos o que precisam para sobreviver.
De acordo com dados do Millenium Assessment, nos últimos 50 anos, as actividades desenvolvidas pelo ser humano têm alterado os ecossistemas mais rápida e extensivamente do que em qualquer outro período da história. Tanto que as florestas tropicais e muitas zonas húmidas (costeiras, continentais) e outros habitats naturais estão cada vez mais fragmentados. Sabe-se que a taxa de extinção de espécies é mil vezes superior à taxa normal.
Ao tratar sobre a biodiversidade dos ecossistemas costeiros, vê-se que estes têm sido seriamente afectados pela acção humana, tornando-os frágeis e vulneráveis a factores externos de mudanças e com menos harmonia em relação às suas funções naturais. Portanto, importa salientar que entre as causas directas da perda de biodiversidade, estão as mudanças de habitat, mudanças climáticas (aumento da temperatura e subida do nível do mar), sobre-exploração, introdução de espécies invasoras e carga excessiva de nutrientes. Contudo, existem pressões adicionais advindas da urbanização, desenvolvimento de infra-estruturas para transporte e turismo e do desenvolvimento da aquicultura.
Ainda de acordo com dados do Millenium Assessment, o impacto dos factores causadores de mudança na biodiversidade dos ecossistemas costeiros registra valores dramáticos: nível muito alto (mudanças de habitat e poluição); nível alto (espécies invasoras e sobre-exploração) e apenas moderado relativamente às alterações climáticas. Destaca-se como principal causa e sem sinais de abrandamento a poluição (nitratos e fósforo) resultantes do uso exagerado de pesticidas e fertilizantes agrícolas e ainda dos efluentes advindos da actividade pecuária e industrial.
Embora os dados do Millenium Assessment pareçam subestimar um pouco o impacto das alterações climáticas na perda de biodiversidade comparativamente com as restantes, no caso dos ecossistemas costeiros o impacto das alterações climáticas é considerável; por exemplo na Europa vários estudos afirmam que - a subida do nível do mar originará uma migração das praias para o interior e perder-se-ão até 20% das zonas húmidas costeiras, bem como muitos habitats de espécies que se reproduzem em zonas costeiras baixas
Segundo o relatório português do Millennium Assessment, em Portugal, à semelhança do que se registra a nível global, a biodiversidade dos ecossistemas costeiros, apresenta um cenário pobre, sendo a tendência de evolução de deterioração deste serviço ecossistémico.
No Caribe, a média da cobertura de corais duros caiu de aproximadamente 50% para 10% nas últimas três décadas, o que equivale a uma perda de quase 7% ao ano desde 1970.
De acordo com índice “Planeta Vivo”, entre os anos de 1970 e 2000, houve um declínio constante na média de abundância das espécies em cerca de 40%; espécies marinhas e terrestres declinaram em quase 30%.
As consequências da perda de biodiversidade nos ecossistemas costeiros podem ser catastróficas para as comunidades costeiras, por exemplo, os danos causados por inundações e tempestades podem aumentar drasticamente após a transformação de habitats de áreas húmidas uma vez que a protecção natural fornecida por esse ecossistema contra a acção das ondas, marés vivas e o escoamento de águas continentais fica comprometida. O furacão Katrina nos EUA é um exemplo recente de catástrofe natural que confirma esta realidade. Quando as rupturas mais frequentes ocorreram em locais onde as áreas húmidas haviam sido destruídas (desvio dos fluxos naturais de sedimentação e a destruição da barreira da ilhas e recifes de ostras que funcionavam como para choques da costa).
Especialistas sugerem que um melhor manuseamento dos ecossistemas naturais poderia minimizar as perdas de vida humanas, vegetal e animal bem como os danos causados à propriedade, por desastres naturais, obtendo-se, consequentemente, ganhos substanciais para a sociedade.
Ainda que pequena, enquanto resultados à escala global, a sociedade vem solidificando a sua preocupação com as questões que afectam a biodiversidade. Salientamos o importante envolvimento do Projecto Coastwatch, o qual tem por missão melhorar o conhecimento da situação ambiental do litoral bem como a sensibilização de escolas, instituições e população em geral para os impactos negativos resultantes da actividade humana na faixa litoral
Perante este cenário e reconhecendo a urgência em travar a perda de Biodiversidade, escolheu-se como tema da campanha “Coastwatch: Um Olhar sobre a Biodiversidade, na expectativa de que os participantes (escolas, ONG, autarquias, escuteiros e população em geral) aquando do processo de monitorização da zona costeira possam, em simultâneo, lançar o seu “olhar” sobre a biodiversidade local, se questionem sobre ela e tomem atitudes mais responsáveis e pró-activas para minimizar os efeitos desta perda.
Bibliografia
Ecossistemas e o Bem-estar Humano: Estrutura para uma Avaliação Biodiversidade”, Actual Editora, Lda. Lisboa, Maio 2008
MIGUEL, João Pereira, ROSA Luís Ribeiro e Barros Susana (2008): “ Ganhar com a Biodiversidade, edição: Actual Editora – Maio de 2008
Millennium Ecosystem Assessment, 2005. Ecosystems and Human Well-being: Biodiversity Synthesis. World Resources Institute, Washington, DC.
Pereira, H.M, T. Domingos, and L. Vicente (editors) (2004): Portugal Millennium Ecosystem Assessment: State of the Assessment Report. Centro de Biologia Ambiental, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Resumo Um relatório do Grupo de Trabalho da Estrutura Conceptual da Avaliação do Milénio dos Ecossistemas Direitos Autorais © 2003 World Resources Institute
Secretariado da Convenção sobre Diversidade Biológica (2006) Panorama da Biodiversidade Global 2. Montreal,

Sónia Borges & Lurdes Soares